O cheiro do perfume
Ele me lembra tantas coisas, infindáveis.
O perfume é a beleza em um frasco, na forma líquida e utilizável, é aquele encanto que não deve ser visto, precisa ser sentido, pois nasceu para entorpecer o olfato, despertar suas mais profundas impressões.
Os aromas vêm para complementar o rol das sensações, e que bom que o faro é cego, surdo e mudo, sua expressão única é a de captar a essência da vida. Pois cada momento é único também pelo seu cheiro, talvez nem lembremos o rosto, mas ao sentirmos o perfume recordamo-nos de toda uma memória recheada de vida.
O perfume é capaz de guardar consigo histórias, levar com ele visões, toques, olhares, sentimentos, resguardar em sua substância o que de mais belo foi vivido, o que pôde ser eternizado em sua essência inebriante.
O cheiro do café, do pão fresco, daquele sabonete, do livro novo, perfumes, tanto quanto os enfrascados, também carregam fantasias, portam também momentos, simples, diários, mas que importam, que são valorosos por si só.
Recordo-me do passado ao sentir alguns perfumes, isso me deixa pleno, paro, recordo, penso, sorrio, é como se uma onda estivesse invadindo-me, uma brisa passageira do antigo, que vem só para me fazer lembrar do quanto é bom sentir, da importância de evocar o pretérito, de como ele faz-se presente das mais diversas formas. Então paro novamente, mas para voltar à realidade, recobrar os sentidos que me foram tomados pelo momento, pelo cheiro que trouxe embutido uma vivência anterior.
E retornar, para poder continuar inalando o presente, como um perfume que deixarei guardado comigo, em um recipiente para ele, de tamanho determinado pela intensidade da história, para que eu possa recobrá-lo no futuro visando uma passagem para o passado, a fim de lembrar o prazer de sentir.