Sobre tragar
Trago comigo todas as coisas, todas as dúvidas, todos os anseios, e não ouse me mandar parar de tragar, porque isso é (p)arte de mim.
A cada nova tragada, um novo questionamento, eles vêm até mim, tá vendo, não tenho culpa, eles ingressam juntamente com o ar que preciso respirar para continuar vivo.
Sigo tragando, um novo respirar, uma nova pergunta, um pouco menos de vida, afinal, a cada vez que trago, o ar, fico a pensar, logo, pouco ajo, assim, um pouco menos para viver ou que foi vivido.
Não tenho intenções de parar de trazer para si tudo isso, de tragar, pois é assim que internalizo o que preciso, é um bate e volta sem fim.
Trago para continuar vivendo, mas vivo menos por estar tragando, paradoxal, porém, somente se os tragos tivessem o mesmo significado, eles nunca têm, cada novo trazer é único, é uma ideia diferente, um ar distinto, um trago fresco, singular.