Sobre os amores que vêm e vão
Temos o amor e deixamos que ele parta.
Corremos incessantemente atrás do que não temos, quando o que mais precisamos está do nosso lado.
Ele vem até nós, mesmo quando não o buscamos, e sequer somos capazes de perceber. Pousa vagarosamente em nosso ombro, fala ao nosso ouvido e não ouvimos, ou fingimos que não.
Ele tem uma sutileza tamanha, não perturba, nem mesmo é grande, afinal, só vai crescer quando for percebido e devolvido.
E de forma bela é prontamente paciente, mas na medida certa, nem vai ficar o tempo suficiente para criar raízes em terreno baldio, nem vai embora ao primeiro sinal de incerteza.
Mas diante de tamanha insensibilidade o amor parte, foi uma mera expectativa dele, um gostinho, que só a outra parte pôde sentir, e como sabido, nada pior do que precisar sentir por dois, logo, tudo se esvai.
Ninguém é de ferro, ou mesmo forte o suficiente, ainda que possua muito amor, por dois não é viável.
E assim o amor parte, porém sem querer, sabendo que bastava algo, bem possível que fosse reciprocidade, ou um pouco de sensibilidade, afinal, sentir não é para todos, e corresponder menos ainda.
Às vezes esse amor logra êxito, acha alguém que estava disposto a escutar, pois ele fala baixo, e nem todos estão atentos às nuances da vida, à maneira como ela se expressa.
Assim, por continuarmos tão alheios a tudo, outros continuarão chegando, e nós prontamente fechados a recebê-los, por estarmos ocupados, surdos ou simplesmente olhando para um outro amor, que não está olhando para nós, que grande fatalidade.
Se aprendêssemos apenas a perceber o que já “temos”, talvez perderíamos menos vislumbrando o que não vai vir.