Se não fosse tão...
Se ela não fosse tão gordinha eu até que ficaria com ela.
Se ele não fosse tão baixo talvez desse para ir.
Se ela não fosse tão tímida lograria bem mais êxito na vida.
Se ele não fosse tão musculoso talvez soubesse conversar.
Se, se, se…
Uma conjunção, duas letras, mas milhares de coisas que não foram feitas por conta dela.
Impera a ditadura do se, da indecisão, dos muitos pré-requisitos, ou pós, e sequer nos damos conta disso, do quanto deixamos para trás, do quanto ele tira do nós, ou nos impede de ganhar.
Se ela não fosse tão caseira teria dado certo, ao invés de ter ficado com ela em casa assistindo um filme e comendo um chocolate.
Se ele não fosse tão organizado teríamos continuado, podendo somente ter também colocado algumas coisas no lugar para combinar com as dele.
Assim seguimos indo, sempre colocando o se antes de tudo, no início da frase, no começo das histórias, que nem ao menos chegaram a começar, só porque inventaram de pôr o se na frente de todo o restante.
E que nessa história toda vamos perdendo muito, vamos, é inimaginável o futuro do que não faz, daquele que sempre trata de colocar uma pedra no meio do caminho, que sua principal função é encontrar defeitos.
O se é esse obstáculo prévio, que sempre insistimos em deixá-lo tomar a dianteira, logo ele, tão mesquinho e apressado, ao primeiro sinal de ideia ele já, intrometidamente, vem, quanta indiscrição.
Mas é isso, se não fôssemos tão preocupados talvez tudo daria certo, tudo fluiria da melhor maneira possível, é questão de relevar, de deixar de colocar e começar a tirar as pedras do caminho, ou até mesmo pegá-las e levar as mesmas conosco, para lembrarmos que eram apenas temores dispensáveis, que os se’s só nos atrasam, prendem-nos e não nos deixam seguir em frente.
Se não fosse tão difícil eu iria, eu falaria, eu viveria, assim, perdeu uma grande viagem, um belíssimo amor e uma vida estupenda.