Sobre a morte
Todos os caminhos levam à morte.
E o que temos feito durante a caminhada?
O caminho é realmente tão importante?
O fim continua não justificando os meios.
Talvez estejamos apenas buscando uma forma diferente de chegar lá, de partir à nossa maneira, de sermos do nosso jeito.
É incrível como ela chega para todos, eis uma informação extremamente bela, afinal, em algo todos nós hemos de concordar e somos os mesmos. Ela nos iguala, coloca-nos no mesmo local, apesar da trajetória.
Notório como a todo momento estamos tentando a retardar, colocá-la para mais longe, esquecer da sua existência. Sim, por esse lado temos acertado, não devemos mesmo estar nos inquietando ou perdendo tempo com ela, afinal, estamos vivos, e existem coisas bem mais valiosas com as quais preocupar-se.
Há pessoas que se preocupam tanto com a morte que esquecem da vida, pensam tanto no fim que abandonam o meio, e caramba, que infelizes, sofrem por antecipação, trazem uma dor para logo, e vivem em torno dela, tentam a evitar mas continuam sempre próximas, andando ao lado, bem perto.
Mas a morte é bonita, há quem chore por ela, há quem ria, há quem faça funeral, há quem festeje, há quem entenda como partida, há quem perceba como chegada, é ponto de vista, como tantos outros momentos da vida.
Não vou mentir, a morte realmente é tenebrosa, difícil de lidar, mas carrego comigo a certeza, e continuo dizendo, que aos medíocres pouco está reservado, e são esses que a temem, afinal, ela representa o fim de um ciclo, e essa partida só vai ser realmente dolorosa para aqueles que não viveram, que não terão nada para levar consigo, pois tudo fica, inclusive nossas pegadas, nossas marcas, nosso legado, e este também nos segue, e aos que não fizeram jus ao verbo viver, a morte realmente será obscura e indecifrável.
E eles temem, pois em cada dia que parte, em parte partimos, um pedaço nosso é deixado para trás, e um pouco de nós é confiscado. Cada vez há menos tempo, e jamais se sabe quando ela virá.
O que dói não é o fato de acabar, é passado e futuro, são os momentos que ainda poderiam ser experimentados, as experiências que ainda seriam vividas, os locais que não foram conhecidos, as palavras não ditas, os gestos não realizados, o choro contido, e tantas outras coisas que deixamos para depois, sempre adiando, como se não houvesse um fim, um ponto final.
Assim, a morte também vem para nos deixar uma lição, a do dever fazer, pois tudo finda, tudo encontra seu fim, e sem data pré-definida.
Portanto, acho a morte louvável, tenho medo da eternidade, ela é cansativa, demorada, entendo que nosso tempo de vida já é o suficiente para tentarmos ser grandes, para fazermos dessa vida inesquecível.
Enquanto isso vou vivendo, sem ter tempo para pensar no fim, ele pode ser hoje, assim como pode demorar ainda muitas décadas, não mensuro, não planejo, não me preocupo, não sofro, mas sofrem, porque todo mundo morre, porém, nem todo mundo vive.