Sobre as dores e as cicatrizes diferirem os poetas dos atores
Simplesmente pois os poetas estão vivendo a realidade, estão sempre por aí, são frutos da história, quebrando a cara, decepcionando-se, são máquinas de experiências, são passado, presente e futuro, deixaram muito pra trás, até porque já foi vivido, no presente de vez em quando estão remoendo resquícios do que foi visto, mas as mesmas já cicatrizaram, doeram naquele momento, mas o futuro está aí justamente para que possam conhecer o novo e esqueçam-se das dores desnecessárias, mas que ainda assim foram peças-chave para seu presente ser como é.
E ainda conseguem transformar tudo em escritos, traduzir tudo em palavras, elas são os pontos que vão fechar as feridas e cortes sofridos, que não foram poucos, pois uma vez me disseram que quem está na chuva é para se molhar, assim, se estão na vida é para viver, e viver tudo, o bom, o ruim, o difícil, o fácil, as grandes histórias, os pequenos capítulos, contos, romances, crônicas, no fim, todas as dores viram histórias, aprendizados. Sempre me ensinaram a não rir das dores do próximo, mas das dos poetas eu rio, mas é uma risada boa, de quem tem muito a aprender com eles, é um sorriso de agradecimento por eles estarem vivendo e disseminando.
Bom, e os atores? Merecem ser tão desmerecidos? Os atores não, mas as atuações, ou até mesmo seus textos, sim, pois não são verdadeiras, toda a dor é inventada, e as cicatrizes, falsas.
Consequentemente, o que isso nos trará de fortificante? Coisa alguma. Percebam, falei das atuações, não dos atores em si. Eles ainda tem sua maestria, talvez por conseguirem fingir, e isso de vez em quando é necessário, mas não sempre, pois interessante mesmo é dar a cara a tapa, é estar exposto, o mundo nunca foi dos medianos, eles jamais ultrapassaram a linha do possível, e eis um problema, não ousar, coisa que os poetas fizeram e fazem.
Por isso a lembrança, pois as dores são extensas, aos que estão vivendo muito está reservado, mas não apenas coisas boas, felizmente, mar calmo nunca fez bom marinheiro. E assim segue-se indo, uma ferida vai fechando enquanto outra vai sendo aberta, mas nem só de escoriações vive o poeta, afinal, ele esteve na chuva, se molhou, e essa água trouxe muitos privilégios, muitos bens. E quando as dores cessam, fica o aprendizado e vem o novo, com gosto de quero mais. Até porque viver é isso, sabe, uma mistura de sabores e dissabores, e só os que estão preparados ou abertos a experienciar é que poderão desfrutar das benesses dessa prática.
Enfim, as dores e cicatrizes realmente são as responsáveis por diferir uns de outros, além dos demais motivos, é claro. Mas ambos são belos em sua aplicação, é apenas ponto de vista, em um mundo tão às avessas, não é de se estranhar que as atuações sejam mais agraciadas, infelizmente.
Enquanto isso, eu aceito as dores, afinal, elas são inevitáveis, e passam, mas sofrer, sofrer não, pois é opcional, e de quebra ganho as cicatrizes, ou poderia chamá-las de histórias, não sei, só sei que sigo indo.