Sobre as raízes
Será mesmo preciso as ter?
Aprendi com o tempo que elas são muito necessárias, elas que nos fazem criar vínculos, mantê-los, elas que nos sustentam. Mas o que são as tais raízes?
Tudo, qualquer ligação, se foi plantada uma semente, é só aguardar e ali nascerão raízes, pequenas ou grandes, elas são importantes, pois nunca se sabe quais lhe sustentam.
Mas o meu maior questionamento fica quanto ao porquê mantê-las, e infelizmente isso é meio egoístico, pois por entre elas existem histórias, momentos, experiências, pessoas, isto tem muito valor, como tudo isso fica diante de alguém que não dá o devido valor às suas raízes?
Felizmente tenho raízes profundas, e também felizmente elas podem ser facilmente rompidas, nem todas, claro, e realmente não sei até que ponto isso é benéfico. Por vezes penso como tudo isso é uma linha tênue, até determinado local é possível ir, caso ele seja ultrapassado, tudo desanda, e eis o receio maior, que todas as raízes sejam cortadas, e por mais que eu queira viver sem elas, a falta que as mesmas fazem é imensurável, e justamente aí reside o problema.
É aquela vontade hercúlea de viver solto, sem grandes vínculos, que cada novo local possa configurar morada, não ter grandes pesos, ou as famigeradas raízes, mas o preço a ser pago por tal modo de vida é caro, bastante, diga-se de passagem, apesar do lado bom que me faz querer imergir totalmente nisso.
E como disse Saint Exupéry, "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que tu cativas." E então, e o que eu cativei? Pois apenas por estar vivendo você já pode estar fazendo isso, cativando, e essa é a parte mais preocupante, e os vínculos, quem vive assim deve contentar-se com relações relativamente rasas, já que qualquer momento pode ser de partida, qualquer vento pode indicar mudança de direção, talvez profundidade não seja uma palavra que combine com pessoas de tal espírito, pois ter raízes significa parar, fincar, assim, são realidades que não combinam.
Enquanto isso opto por manter as raízes necessárias para que eu possa me manter de pé, mas sabendo que repentinamente eu posso rompê-las e talvez ir conhecer novos terrenos, outros tipos, alguns são mais propícios a criar raízes que outros, pelo clima, pela vizinhança, sabemos bem que existem pessoas que são como os eucaliptos, suas raízes tiram a possibilidade da existência de outras ao seu redor, então, não me cabe ficar perto delas.
Com todo o espaço do mundo seria também egoísmo querer enraizar-se apenas em um local, então, prefiro ser não apenas de uma raiz forte, mas um aglomerado de sustentáculos, por mais que menores em profundidade, serão maiores em alcance, e isso tem seu valor, serão muitas, distintas, incontáveis, homogêneas mesmo em suas diferenças.
Portanto, apesar dos pesares, escolho ser cidadão do mundo, de experiências, vivências, de diferentes lugares, e que cada componente desse sirva como base para que eu possa construir meu alicerce, por mais que talvez amanhã eu já me mude novamente, mas é isso mesmo, nada nasceu para ser eterno, tudo flui, e eu também.