Sobre não se encontrar
E esse inconformismo que tanto me afeta, essa coisa de jamais estar pleno, eu sei, até porque já me disseram, a plenitude é a maior inimiga da evolução, mas bem que gostaria, sabe, de por algum momento sentir a sensação de tudo estar no lugar.
Há um bom tempo não sento e penso, caramba, estou onde eu gostaria, vivendo a vida que eu tanto quis, fazendo coisas que eu sempre pretendi, sendo quem eu há muito quis ser. Tudo bem, ainda sou jovem, e muito ainda existe para ser vivido e sentido, mas será que já não daria pra ter uma palhinha da completude?
São tantos vieses, tantos caminhos, diversas maneiras, e isso que me deixa sempre na eterna dúvida, entre o ir ou ficar, o fazer ou não, o dizer ou silenciar, e o eterno como, o jeito como tudo se dará.
A grande questão é que vivo uma incansável busca pelo que me faz feliz, vivo a procurar o que dilate minha pupila, situações que me choquem, que me questionem, que me perturbem, sinto que tenho fome, mas o alimento que procuro não vai preencher meu estômago, e sim minha mente, sinto que necessito cada vez mais de uma refeição cheia de vida, com sabor de diferente, que contenha uma mistura enérgica, e necessito sempre, é uma fome interminável. Quero engordar, porém, de experiências, de vivências, de conhecimento de mundo.
Meu frio na barriga há muito tempo passa bem distante, longe mesmo, está tudo tão calmo, minha rotina, tão normal. Talvez seja isso, esteja faltando o que me tire o sono, o que me faça perder horas em pensamentos, em divagações, em suposições, os e se, tão clichês.
Tenho percebido que preciso das sensações, que meu combustível é vida, a monotonia me cansa, fatiga-me, é perceptível, é facilmente decifrável, não nos reserva nada tão especial.
Às vezes sinto que minha realidade não me comporta, que o que eu tenho vivido não me cabe, que
meus sonhos são maiores do que tudo, que são tão amplos que me deixam inquieto, em desacordo com tudo, um completo caos.
Uma coisa há de ser entendida, minha realidade é diferente de mim, posso estar perturbado, mas minha vida uma calmaria, são sujeitos distintos, e é essa dissonância que torna tudo tão discrepante, poderia dizer até interessante, quem sabe, vai depender muito do meu estado de espírito.
Realmente não sei o que se passa, quando tudo se ajeitará, nem se tudo um dia estará no lugar, são tantos sabores, assim como dissabores, gostaria de saber, ou não, sei lá. Talvez o melhor seja continuar assim, sem saber, vivendo, estando aberto, seja à plenitude ou à desordem, não custa tanto, só mesmo uma vida de incertezas e dúvidas, possivelmente um dia eu me encaixe e encontre as respostas ou o normal é não ter encaixe, caramba, quantas dúvidas, deve ser por isso que não me encontro.