Sobre ter o pé na estrada
Sempre falam sobre você ler um livro e ao acabar ficar se perguntando o que irá fazer após o ter terminado, bem, neste momento estou me perguntando isso.
Pé na estrada, começou sem grandes pretensões, não imaginei ser grande viagem, inclusive pensei em parar na página 50 e o deixar lá na sarjeta, como muito se fala no livro, mas insisti, pois me apaixonei por ele ao primeiro contato, e como alguns em amores, precisamos ser pacientes, é quase que como um bom vinho, necessita de tempo.
Realmente entrei na história de cabeça, conheci quase todo os EUA, Denver, Nova Iorque, São Francisco, Alabama, até mesmo um pouco do México, etc, as partes mais promiscuas e imorais, fiz uma série de amigos errantes, ociosos, vadios, foi uma viagem alucinante, ao lado de pessoas incríveis, vagabundos natos, de leste a oeste e vice-versa, de carona em carona fui penetrando mais fundo no livro e chegando em locais fascinantes, sempre com aquele sorriso no rosto, mesmo com as dificuldades, de vez em quando faltava tempo para continuar, mas percebi que o que faltava mesmo era dinheiro, mas nunca parceria e vontade de conhecer mais e mais, de dose em dose a
viagem ficava mais louca e profunda, só muito álcool para continuar em frente.
Amores divagantes, paixões líquidas, esbórnias, bebedeiras, e muito, muito chão adiante. E nenhuma, nenhuma relação realmente concreta, a não ser uma, a entre Sal e Dean, mesmo eu
ainda tendo dúvidas. Além do vínculo tênue de todos com todos para com a vida, esse louco e doce, para alguns amargo, momento existencial.
Enfim, o retrato de uma geração relaxada, sem grandes pretensões, a não ser o momento, não queriam manter o status quo, queriam o novo, sempre, a cada instante. A imagem de uma linhagem inquieta, inconformada, que sabia bem sair da sua zona de conforto, sempre procurando emoção, novidades, e era algo que somente o mundo os podia proporcionar da maneira mais efervescente possível. Essa era e é a geração Beat!
Prazeres mundanos quase apoteóticos talvez seja a expressão que melhor defina tal trajetória, essa insana viagem, que sempre ia em frente, nunca olhando para trás, eis uma boa lição para aplicarmos em nossas vidas.
E eis que ela “termina” com quase todos tomando juízo, a viagem demorou, foram anos de idas e vindas, afinal, ela talvez nunca acabe mesmo, se há algo que deve ser conservado é essa aura jovial, a alma inquieta e no fim, até mesmo vagabunda.
Até que vi um pouco de Bukowski em cada página, talvez naqueles momentos de bordéis, bares e sarjetas, impossível não lembrar, já que ele é referência em descrever os locais e as pessoas invisíveis.
E o que fica depois de ler a Bíblia Hippie é a vontade de viajar e se jogar nessa mundão, viver menos de aparências, e mais de experiências, afinal, eles me mostraram que isso é perfeitamente possível, e viver com uma bagagem leve, pois nunca se sabe quando será a próxima empreitada, e cá entre nós, grandes pesos nunca são necessários quando o assunto é sair por aí, pois o que ficará de importante mala alguma poderá comportar, só uma mente leve, despreocupada e cheia de vontade de viver.
Por fim, depois de tudo, vou nessa, uma vida cheia de energia me aguarda para ser vivida, afinal, o que aprendi no livro precisa ser aplicado.