Uma companhia real ou virtual?
Duas pessoas, uma espera, nenhum contato.
Eis o mal dos dias atuais, os acessórios inteligentes são mais interessantes que o contato humano. Aquele que está perto na verdade está muito longe, fissurado no conteúdo de uma tela, o outro, não merece consideração alguma, nem ao menos um olhar, uma reação, um sinal de vida.
As relações, tão efêmeras, afinal, um smartphone é mais companheiro, o Google sabe mais, existem mais amigos no whatsapp, grupos cheios deles, aliás. E aquele que aceitou estar de companheiro, pobre dele, disse sim a um convite tão vazio, tão cheio de nada.
Não sei por onde anda a capacidade de olhar olho no olho, de conversar sobre a vida, sobre assuntos reais, que nos cercam, que estão ao nosso redor, mas que redor, se apenas o celular importa, se para dialogar sobre o entorno eu preciso estar vendo, estar participando, e principalmente, sendo parte dele.
Que grande besteira estar vivendo o palpável, o que está à minha frente, se tenho o mundo em minhas mãos, todas as informações que preciso em um só lugar, se posso estar perto de quem está longe, tirar qualquer dúvida, registrar qualquer momento. Mas registrar que momento se nada está sendo vivido, se a realidade não é suprimento suficiente, se ela nem mesmo é percebida.
Enquanto isso eu poderia também fazer o mesmo, pegar meu celular e repetir o feito, mas seria me enganar, seria ser demagogo, seria não o respeitar, apesar de eu já não estar sendo respeitado. Porém, como falam, cada um oferece o que tem de melhor, e no meu cardápio tem presença, tem assunto, tem face a face, e acima de tudo, companhia, desculpe-me se no seu não tem.
Portanto, é com uma grande infelicidade que eu vejo isso acontecer, apesar de saber que eu, enquanto verdadeiro, não partirei apenas tendo isso como pretexto, mesmo sabendo que o mesmo já é suficiente. Mas entenda, é extremamente simbólico o fato de dar mais importância a um objeto, até porque, sei bem que independente de qualquer coisa, continuarei ali, mesmo abjeto, e o objeto, este, meu amigo, nem ombro para lhe oferecer nos piores momentos ele tem, só para constar.