Precisamos mudar de lugar algumas certezas
O fato é que as certezas passaram a tomar conta de todos os locais, por onde ando vejo pessoas cheias delas, indivíduos integralmente certos, bradando o correto para todos os lados, tudo rigorosamente definido.
Eu, pelo contrário, permaneço um poço de dúvidas, carrego comigo todas as incertezas, uma série de questionamentos, tenho preferido o subjetivo, o aberto à discussão, o diálogo, nenhuma certeza, não à exatidão.
E o mais interessante é que vejo os que leem bastante, leem sempre, sobre tudo, continuarem duvidosos, sem conseguirem firmar posição, apesar de algumas serem bem fincadas, e com tudo isso sinto-me cada vez menos certo, sempre com mais interrogações.
Quantos aos tão cheios de certezas, por vezes, nem são leitores vorazes, ou se leem, não é tão perceptível, eles, tão cheios de si em suas afirmações, pecam por sua convicção, tão cheia de pontos em branco, mas que eles insistem precisamente em evitar percebê-los, logo estes pontos, tão cruciais na formação de suas dúvidas, eles, que levam consigo toda a imprecisão da declaração, mas não, mostrar certeza é mais glorioso, ninguém gosta de pessoas cheias de dúvidas.
Talvez deve ser por isso que os filósofos não são vistos com bons olhos, questionadores natos, incertos em sua essência, amadores do saber, quem sabe a resposta reside aqui, amar o conhecimento é abdicar de garantias, de respostas, é jogar-se de peito aberto nas perguntas, tão duvidosas, e refutar até mesmo as soluções.
Aqui Marcelo Gleiser acertou, comparando o conhecimento a uma ilha, e o oceano com o universo a ser desvendado, o desconhecido, quanto maior a ilha, maior o contato com o conteúdo, e maiores as dúvidas. Aos lotados de afirmações, é possível que estejam com as ilhas ainda muito pequenas, limitadas, o que não é bom nem ruim, só é preciso tomar um cuidado maior quanto a expressar sua visão do correto, pois pode ser que o outro tenha escolhido expandir a ilha e assim, refutar você.
Portanto, certo de uma coisa estou, que duvido dos caminhos certos, eis minha certeza, uma interrogação.