Um desabafo aos póstero
Era estranho, eu sempre quis o profano, eu tinha interesse em conhecer mazelas, chega um ponto em que o bom e o excelente misturam-se, deixam de ter distinções, e afinal, o bom sempre será algo bom, mas o ruim não, sempre poderia piorar, sempre poderia superar-se, e era isso que me fascinava, negativamente, mas não deixava de me encher os olhos, nem que fosse de lágrimas.
Eu não tinha tanta vontade de conhecer situações que me causassem simpatia, senti-la é fácil, é cômodo, é estar em pé de igualdade, difícil era sentir empatia, colocar-me no lugar do outro, e era isso que eu queria, adentrar em uma realidade distinta, diferente para pior. Sempre carreguei comigo a ideia do ruim, de preparar-se para o mais distópico, crescer mentalmente diante de adversidades, o bom é fácil, é simples acostumar-se com ele, não causa dor, preocupação, inquietude.
Tentei a todo momento nivelar por baixo, ter como exemplo algo inferior a mim, isso para elevação enquanto coletivo, e talvez até o pensamento em conjunto seja o melhor para a evolução enquanto indivíduo, quem sabe neste jogo o melhor seja pensar como o pior, conhecer as mais aterradoras adversidades para saber valorizar a menor das benesses.
Busquei o terceiro mundo, o primeiro era mais bonito, mas sempre parecia estar escondendo algo para parecer mais belo, o terceiro não, ele não tinhas máscaras, estava exposto, como a mais horrenda figura, em sua pior face, definhando em sua realidade, tão aterradora.
E ele me fascinava, justamente por isso, contemplar o belo é vantajoso, é feito de bom grado, olhar o feio é oneroso, desgastante por demais, é preciso engolir rugas, calos, doenças, ignorância, tudo aquilo de mais repudiado e amedrontador, a escória estava ali, exteriorizada, e apesar de estar em maior quantidade, era apagada, esquecida.
Talvez por isso eu os escolhi, pela exposição, pela simplicidade que é estar do lado deles, mas também pela dificuldade que é olhar em seus olhos e absorver todo o peso do tempo, do esquecimento, da escuridão, isso não é bonito, porém é forte, intenso o suficiente para me fazer ter querido ficar do lado deles, do lado da maioria.