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Quem você é?



Desculpe-me ter passado tanto tempo sem vir aqui, hoje sou mais estranho para você do que você é pra mim.


A adolescência passa rápido, muita coisa muda, e você já está idosa, carregando o peso da vida nas costas, talvez por isso a posição envergada, o caminhar lento, a voz falha.


E eu, tão negligente que sou, passei tanto tempo sem vir aqui, ainda lembro da última vez, foi para um enterro, chegaram até a me perguntar se eu só reapareceria para o outro, o seu.


Novamente peço desculpas, você não ter me reconhecido é somente culpa minha, eu, que possuo a mocidade em minhas pernas, não fui capaz de vir mais vezes, não sei o que estava pensando, se você, já tão debilitada, viria até mim, até minha casa,


Foi um choque não ser reconhecido, fiquei pasmo quando falei com você e a senhora me respondeu, mas como respondia a um qualquer, nem sequer sabia que estava de frente com alguém da família.


A barba, a altura, o semblante, não era mais aquele menino, dessa vez eu a via por cima, já que você estava sentada e mal podia ficar de pé, não houve abraço, muito menos um beijo, dificilmente se dá isso a um desconhecido.


Porque nesta posição eu estava, de indivíduo avulso, tão genérico quanto eu poderia estar, olhando para alguém que para mim sequer nunca mudou, afinal, externamente, na terceira idade pouco se muda, porém, não sabia eu que por dentro ela já era outra, em partes devastada pelas experiências, em outras, pela apatia que é estar isolada, confinada entre quatro paredes, e eu fui ingênuo.


Fui justamente por esperar algo de alguém que para a mesma eu já era um estranho, se em alguns momentos nem eu mesmo me reconheço, pergunto-me o que fui há dois dias, o que eu queria esperar de alguém em sua senilidade, já tão avançada, que fosse me reconhecer em minha mais tenra idade, em que um ano é um dia, e pra ela, um dia é um ano.


Novamente peço desculpas, e obrigado por ter me questionado. A grande pergunta não é o que sou, mas o que sou para cada um, o que represento, e isso ficou, tentarei não mais mudar tanto, para que da próxima vez você possa lembrar e me chamar de Júnior.


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