O eterno retorno

Eu já, já vi esse filme dezenas de vezes, é sempre da mesma maneira, o perfume, a dança, a sincronia, e sempre acaba igual, tento pensar diferente, fazer ser distinto, mas noto um empecilho.

O enlace, o jeito, a história, parecem encaixar-se perfeitamente, estava escrito, ou melhor, tinha que acontecer, mas talvez não tivesse redigido até o fim, ou havia falhas críticas no manifesto.

Tudo conspira a favor, até parece que de fato dará certo, mas de súbito tudo volta a ser igual, ordinariamente similar.

Chega a ser engraçado esse eterno retorno, você vive com esperanças de que em algum momento não retorne, não volte ao ponto inicial, que avance de verdade, como aquela fase intransponível que não se sabe mais o que fazer, apenas esperar que em algum momento algo aconteça, ou que perceba onde infimamente você está atrapalhando-se, ou mesmo está dando errado.

É do mesmo jeito, cada nova visita ao filme nota-se algum detalhe diferente, mas ainda não foi tomado conhecimento do principal, daquele que não deixa a história seguir em frente, que apesar de passar despercebido, é crucial para entender a trama.

Diga-se de passagem, está monótomo ver a mesma película, você já sabe o que vai acontecer, e mesmo assim espera algo diferente, uma intervenção externa, uma mudança no roteiro, que o ator não siga o script, porém, tudo permanece igual, sem mudanças significativas.

E assim continuará sendo, até o momento em que o eterno retorno deixe de ser eterno, infinito, e finalmente siga em linha reta, pronto para, talvez, uma nova etapa, ao menos será inédita, apesar de também, porventura, cíclica.