O eterno ir ou permanecer
Já cogitei permanecer para sempre o mesmo, eternamente imutável, principalmente diante de situações fantásticas, de momentos inesquecíveis, aquilo já me parecia demais arrefecedor, talvez bom o bastante.
Mas o tempo passava e eu via que não era bem assim, tão simples quanto parecia, sempre percebia que poderia ser algo mais, um eu melhor, justamente quando me deparava com o novo, com algo inédito.
Então sempre fico entre querer conservar e o alívio de não ter seguido o mesmo, mais a frente você sempre nota que foi benéfico continuar, que é interessante por algum instante contentar-se com sua condição, mas acostumar-se não é a decisão mais sábia.
Assim como já cogitei nunca mais ser o mesmo, meu estado me era demasiado aterrador, ou pior, era também para o alheio, e isso me fazia não querer perdurar, não me demorar muito em mim, como se eu mesmo fosse um estrangeiro em minha condição, infelizmente um desconhecido.
Mas o tempo passava e eu via que não era bem assim, que ficar também era necessário, principalmente para conhecer-se, não se pode simplesmente fingir e permitir-se a indiferença, é ser demagogo consigo.
No fim acho que de fato a vida é essa dicotomia, um vai e vem de equilíbrios, uns lampejos de vitória, uma transparência túrbida, uma luta incessante entre o querer e o poder. Tomara que achemos o meio termo, talvez aqui o melhor seja não assumir apenas um lado, é ficar e ir, na proporção de sempre continuar essencialmente o mesmo, apesar de todas as mudanças.