Nas noites de frio é melhor nem nascer, nas de calor se escolhe, é matar ou morrer

Nas noite de frio é melhor nem nascer, faz-se bem ficar em casa, tudo está parado, as ruas, vazias, cheias de almas incompletas buscando a redenção, contemplando o indefinido, não há pelo quê lutar, tudo é marasmo, apatia, indiferença.

A maioria prefere permanecer mesmo em seus aposentos, como sempre, isso geralmente não é algo bom, mas nas noites geladas parece ser a melhor escolha, do contrário, é um trabalho em vão, não há para quem gritar, poucos irão ouvir, e os que ouvem, permanecem em seus lugares, lançam olhares vazios, por vezes frígidos, de quem não tem interesse, para quem aparentemente a realidade parece não importar, o que vai ou o que fica, tanto faz.

Então não nasça, nascer é um ato de rebeldia, é melhor resguardar-se para o futuro, quando for mais simples sair, no momento em que se possa ir sem tanto peso, sem tantos agasalhos, com mais vivacidade, quando for para surgir e mudar, levantar e não voltar.

Nas de calor se escolhe, é matar ou morrer, eis o momento de sair de fato, e neste instante, é melhor estar preparado, as noites frias serviram para isso, seria bom ter notado. No calor não há covardia, o mundo se abre verdadeiramente, você vai sabendo que pode não voltar, é uma guerra, não há tanto espaço, cada um é caça e caçador, aqueles que lá estavam nas noites de frio, talvez sejam os primeiros a definhar, ou mesmo já estavam vivos desde aquele momento, e por isso, são os melhores caçadores.

Alguns continuaram em casa, estes têm medo da vida, preferem a medrosa ociosidade, escolheriam todos os dias as noites gélidas, para assim nem nascer, afinal, vir ao mundo é também um fardo, que nem todos suportam carregar.

É matar ou padecer, não há muitas outras saídas, a realidade nos impõe isso desde algum tempo, nem todos permanecerão, infelizmente, e as noites de calor têm sido muitas, outra triste constatação.

Ainda chegará o momento em que os que ficaram em casa terão que sair, não há como ficar para sempre encarcerados, eles hão de posicionar-se, em algum momento a vida vai pedir, e certamente ela vai requisitar que saiam nos períodos quentes, porque decidir nos momentos frios é simples, mas é no calor que se mostram os rebeldes, os que matam e os que morrem, pois é assim que nos tornamos quem somos, diante da eterna luta, aos apáticos, o frio, o impiedoso gelo que é a morte.