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O peso do inconformismo



Eu tenho me cobrado muito, mas não uma cobrança qualquer, não ouso perder minha paz por qualquer troca, é um cobrança intensa, de que preciso viver, de não poder deixar a vida escorrer por entre meus dedos.


Às vezes é dispendioso, jamais perder tempo, mas eu sempre sigo perdendo tempo, eu o perco para ganhar, eu ganho deixando muita coisa fluir, principalmente o relógio, que insiste em continuar funcionando enquanto eu me perco, e insisto em recusá-lo, em ver que o tempo não é tudo isso que falam, que eu posso gastá-lo e ele dobrar, que eu posso olhar e ele sumir.


Acordar cedo porque pra mim a vida é durante o dia, apesar de que tudo permanece funcionando enquanto eu durmo, e quando eu acordo o mundo já é outro, enquanto eu passo o dia tentando o mudar, principalmente o meu, por isso me cobro, porque a vida continua, independente do meu sono, do meu marasmo.


Talvez a maior missão seja chegar ao fim tendo vivido o máximo possível, possivelmente seja um jogo, e eu tenho-o levado muito a sério, apesar de estar sempre despreocupado, eu sigo brincando, perdendo tempo com o que julgo importante, quem sabe não esteja perdendo, nem mesmo sei se algo está se esgotando.


Por isso tenho me cobrado, porque se eu não o fizer, pode ser que eu me engesse, fique para trás, passe a seguir o mesmo ritmo que muitos seguem, comece a dançar conforme a ciranda, e a cobrança é justamente para não perder o dia amanhecendo, assim como a sua ida, para ver o café sendo feito, a poesia ser escrita, para acompanhar a vida de perto, para não perder o encanto, porque se deixarmos, ela mesma nos furta tudo isso, e por conta disso me cobro, e sigo me cobrando, não para o futuro, não para ter, ser, mas simplesmente para não perder o caminho, não dormir durante a viagem, o destino está lá, a forma de chegar é que muda, por isso muitos sabem onde chegaram, mas não de onde vieram, são incapazes de olhar para trás e ver o trajeto, e este eu faço questão de entender, perdendo meu tempo com o que vai tornar a chegada mais graciosa, talvez ganhando, pois chegando lá vou poder falar sobre o percurso, como eu o contemplei e ainda assim cheguei.


Isto posto, cobro-me, não por qualquer coisa, apenas para não me deixar levar pelos horrores que eu lhe digo, pois isso é somente um texto, na vida realmente é diferente, quer dizer, ao vivo eu me cobro muito mais.


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