Desculpa duas vezes
Durante bastante tempo me apoiei em desculpas tão sem sentido, que sequer possuíam densidade suficiente para serem creditáveis, elas eram uma camuflagem, uma forma de tornar a desistência menos lancinante, ou mesmo fazer com que o pretexto tivesse mais substância.
Nunca foi fácil não ir, é sempre um misto de não querer com precisar, gerar expectativa e não ser capaz de a suprir, simplesmente porque não há forças, ou vontade, ou necessidade, não há nada que de fato valha o esforço de te tirar do lugar, por isso o disfarce, para não transparecer tanto o desinteresse, a apatia.
Às vezes essa evasão é somente para não precisar ouvir novamente o mesmo, já dito repetidas vezes, palavras tão vis, incapazes de portar alguma identificação consigo, infelizmente nada aparenta ter mudado, e elas continuam sendo as mesmas, incansavelmente idênticas, dolorosamente imutáveis.
Assim, vou escapando em alguns momentos, sendo encurralado em outros, e as desculpas vão sendo como um manto, bastante incompreendido, mas ainda assim protetor, porque nem sempre estou pronto, em tempos, nem mesmo quero.
Hoje já me sinto menos mal por precisar dizer que não, talvez as justificativas nem sejam mais tão necessárias, você vai entendendo que não precisa explicar, que quem tiver que entender, aceitará a condição, e quem não, desculpa duas vezes, a primeira como perdão, a segunda como razão.
Por isso as desculpas, muitas vezes, para evitar o desnecessário, poupar a calma, ir contra o desgaste, não é covardia, é somente autoproteção, após um tempo nem sequer precisarão ter um sentido, pois elas mesmas bastar-se-ão, como o mais perfeito motivo, aquele que não precisa de explicação.