Minha doce inquietude
Possivelmente meus melhores períodos tenham sido os de perturbação, quando tudo parecia infinitamente descontrolado, todas as coisas fugiam de mim sem o mínimo pudor, era assustador como eu parecia não estar em mim naquelas horas, ou talvez ali sim era o real encontro, meu verdadeiro momento, quando eu entrava totalmente na minha insanidade, a fim de tentar me encontrar e sair dali. Melhores hoje, quando tu passou, pois aquelas situações eram dilacerantes, demasiadamente complexas, eu sempre precisava escolher, e era isso que tolhia meu sono, saber que a partir da sentença, eu estaria perdendo, uma vez que escolher é sempre perder, mas ainda assim via beleza naquilo, em estar sendo perturbado por algo, com uma dor intensa e contínua até decidir. Pode parecer louco, mas aparentemente é quando você necessita voltar pra si, sair da abstração e sentir, uma inquietude sem fim te invade e não há o que te faça retornar. Eis um período doloroso, em que você é causa e consequência, a perturbação é exatamente sair do conforto que é não estar perturbado, talvez estes sejam mais reais, porque levam consigo o peso da dissonância, vibram na frequência do desequilíbrio, e creio que calmaria nunca tenha feito bom guia.
Provavelmente por isso meus melhores momentos, pois precisei mergulhar em mim, e inevitavelmente eu saí melhor, há de se tirar aprendizados das chuvas que insistem em cair, justamente porque elas são a junção de não querer com precisar, sem precipitar o novo nunca vem, se não perturbar, não vai misturar, será sempre o mesmo. Assim, fico com o que me transtorna, com o que me tira o sono, não é tão ruim não dormir, ruim é nunca se ver encurralado.