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O prazer de ser exagerado



Ser prolixo nunca me pareceu um problema, estender-se além do necessário, alçar voos que eu mesmo nem imaginaria conseguir, é talvez esquecer dos limites, ou mesmo os entender, mas perceber que sempre era possível um pouco mais.


Era passar das linhas que me impuseram, falar bem mais que o pretendido, nunca consegui sintetizar tão bem, o portanto sempre me deixava confuso, porque a partir dele eu precisaria de um desfecho, coletar um punhado do que eu já possuía feito, possivelmente parar naquele ponto, e nisso nunca fui bom.


O fato é que constantemente falei demais, pois tudo isso nunca me pareceu um problema, não me apraziam as coisas pequenas, até o que era curto de nascença, por isso, talvez, a distância do poema, daquilo que tinha o mundo em um pequeno espaço, nunca foi menosprezo, apenas sinto uma grande necessidade de palavras, narrações homéricas, infindáveis explicações.


Frases prontas sempre me pareceram perfeitas para explicar um momento, pareciam bem mais fáceis de aplicar, mas aparentemente careciam de esclarecimento, uma vez que nem tudo era tão simples, como se de forma reiterada, pontas ficassem visíveis, arestas permanecessem mal aparadas.


E era justamente neste momento que eu falava, indefinidamente, afinal, tudo me parecia tão profundo para ter como explicação um par de palavras, a singularidade dos acontecimentos jamais aparentavam requerer limitadas explanações, simplórias perspectivas.


Talvez, por isso, nunca achei tão simples o posto, já que eu sabia da necessidade de ir até o fim, nem que tudo me custasse gastar todo o vocabulário, que fosse necessário ser rebuscado em terrenos presentes, ou mesmo antecipar resultados vindouros, o fato é que jamais foi um sufoco, seja estourar o cronômetro ou criar linhas para continuar dissertando, o importante era não deixar pontos carentes de visão.


Por fim, apenas sei que tendo a vida como palco, jamais deixarei de ser estendido, já que parece impossível ser sucinto, nem gostaria, seria uma afronta reduzir tanto, não seria belo falar pouco existindo o que há para apreciar, assim, sigo, afinal, ser prolixo nunca me pareceu um problema.


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