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Um ensaio sobre a intensidade, ou não



Ser morno é talvez uma das tarefas mais dispendiosas que poderíamos possuir, até mesmo parece simples, mas não é quando o mundo te cobra ebulição a todo momento, uma nova reinvenção a cada segundo.


Não que não seja cheia de entusiasmo a ideia de sempre ser infinito, imensurável em seus limites, mas duvido muito de quem segue esta cartilha, parece demasiado forçoso viver sempre à beira do insano, é como perder seu sono para manter os outros acordados.


Tudo isso me soa muito heroico, quase uma investida para a eternidade, a questão seria, para quem ser eterno, o que ser ilimitado custaria, afinal, existem valores que não valem a finalidade, preços caros demais para um posterior arrependimento.


Aparenta ser uma cobrança infeliz, o mundo exige de ti e negar é, possivelmente, jogar-se na mediocridade, aceitar a condição de subalterno, quando tudo que se queria era não precisar corresponder às expectativas alheias, reclamam a todo momento o mártir que há em ti. E se não houver, e se ele estiver sacrificando-se por outras causas, mesmo assim eles não entendem.


É uma luta inglória entre ser sempre intenso e os hiatos de serenidade, parece que o meio termo é tão negligenciado quanto a completa quietude, e perdemos por tentar incessantemente nos perpetuarmos a qualquer custo, como em uma farsa planejada.


Não é difícil entender a necessidade de entregar-se mais, de viver a fio, o problema é exigir isso a todo momento. Nem sempre você poderá salvar o mundo, ser um exemplo, é custoso demais seguidamente precisar ser inédito, ou mesmo residir à beira do abismo. Há intervalos entre as valentias, precisamos deles, até a intensidade cansa, ninguém é campeão sem voltar para casa, ninguém digere o prato quente, é só quando ele amorna que podemos desfrutar do feito, após o repouso vem a bonificação.


Portanto, é possível que não necessitemos nos cobrar tanto, que os excessos nem sempre sejam precisos, exceto em alguns momentos, e que entendamos os espaços de calmaria e mesmo aqueles que preferem residir somente nela, nem todos vieram com gana de conquistar multidões, talvez suas intensidades sejam internas, o que não deixa de também ser um desafio, cada um do seu jeito, cada qual à sua maneira.


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