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E quando o abismo está na sua frente?



Quantas vezes precisei contemplar o abismo, sem entender absolutamente nada acerca da profundidade, pois era quase impossível mensurar o tamanho de tudo aquilo, eu apenas ficava pasmo a olhar, e com muito medo de tudo o que representava, pois era o escuro, o desconhecido, o que eu de maneira alguma dominava ou mesmo possuía vago conhecimento.


Nunca foi fácil ao menos tentar entender o porquê de eu estar de frente para a desolação, totalmente perturbado com toda a situação, era apenas eu e o infinito, naquele gigantesco buraco estava tudo que eu insistia em negar, que constantemente me assombrava, naquele momento não adiantava nem sequer fingir, afinal, tudo estava diante de mim, extremamente exposto, e como eu estava na beira, não havia futuro, dar um passo à frente era me jogar dentro de um poço, uma ilusão, ou possivelmente lá dentro eu acharia as verdades, pois de fato as enfrentaria de frente, e minha continuidade do lado de fora representaria a fuga do real, onde eu me escondia dos meus assombros, não encarava nada de frente, aparentemente a superfície representava a calmaria, ou mesmo esta era apenas um conforto ilusório, uma enganação.


O pior era saber que quanto mais você olha para o abismo, em algum momento ele passa a também olhar para você, os contrapontos ficavam frente a frente, um anulando o outro, e ainda assim extremamente carregados. As vozes que vinham das minhas costas pareciam sempre mais afáveis, pois sussurravam sobre permanecer onde tudo parecia ser mais tranquilo, puxando-me para voltar e repudiando eu estar no limiar dos mundos, sobre um limite tão tênue, ao passo que os gritos do fundo também chegavam em demasia, porém soavam mais abafados, talvez pelo espaço, pela forma, e ainda mais pelo que representavam, às vezes também tão aprazíveis, mas vindo de um local onde em tese nada parecia de fato ser, não sei se pela luz tão pobre, ou simplesmente pela obscuridade emanada, infelizmente mais me alarmava do que apresentava um novo meio, um mergulho suave rumo ao recomeço.


A grande questão fica de fato em torno dos abismos, imensuráveis em suas imensidões, comportando cada um diversas realidades, incontáveis pesos. Jamais saberemos o dispêndio que é enfrentá-los até precisarmos nos jogar, cedo ou tarde o mergulho virá, senão, eles mesmos nos puxam ou passam a expandir-se além do normal, tudo parece virar precipício, insuportável será o caminhar, até que a última opção seja enfrentar, o pulo parecerá manso, a leveza, extrema, liberto enfim, doloroso não era partir, e sim, ficar, tudo estava distorcido. Eu estava apenas encarando meu futuro pensando que evoluir era subir, quando na verdade, eu precisava descer, encarar de frente o que eu tinha deixado pra trás, jamais foi sobre retroceder, era apenas um novo elevar, com mais consistência, menos pontos falhos, e acima de tudo, um novo pensar, sem temer os abismos, eles são apenas nossos reflexos renegados, mas de qualquer forma, à nossa imagem e semelhança, apenas despidos e desarmados, nossas piores versões, as que escondemos, por isso a dificuldade em olhá-las, pois o abandono é maçante, ainda mais quando somos nós causa e efeito, cegos, inebriados, diante da criatura que o penhasco expôs. Então, eis um lado bom, a nova liberdade, desprovidos de vícios, não mais relutantes e com a certeza de que mergulhar novamente não será mais um sacrifício, talvez apenas uma busca pelo frescor anterior, uma remissão dada por si mesmo, sempre será tempo de se enfrentar, é edificante, o perdão próprio, possivelmente só o abismo pode dar, e quando necessário for, é só pular.


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