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A zombaria das escolhas


Quantas vezes sonhei com a imensidão, com aquilo que eu nem conseguia sequer ter ideia de como seria, deixar tudo e partir em busca da grande tacada, mas acabei ficando, por um momento aquilo me pareceu um tiro muito certeiro em tudo que eu havia planejado para mim, um deslizamento de terra na parte crucial da história, no âmago, de onde tudo aparentemente partiria, então fiquei.


Talvez com mais medo do que antes, me amedrontava mais ficar do que partir, o resto do mundo, já tão conturbado, me parecia menos hostil que a simples ideia de permanecer.


Ficar para mim, representava tudo que eu mais temia, a ideia de não mudar, de me acostumar, de continuar sendo o mesmo, mesmo com as constantes mudanças, era como seguir colocando lenha na mesma fogueira, incessantemente, e apenas esse pensamento já me causava apreensão, o de não questionar a história, de não dar um nó no aparente destino, e perseguir um fim que possivelmente eu já conhecesse, mesmo que não perfeitamente.


Conservar a situação me doía bastante, talvez fosse o receio de estar sempre por aqui, de eternizar laços, de não sair do lugar, mesmo sabendo que o mundo não estava aqui, tudo isso não era nada, e o pior, acabar por me acostumar com a falsa sensação de segurança em manter-se inerte, sem grandes distorções na trama, sem reviravoltas surpreendentes ou ainda decepções que me fizessem querer ter ficado, mas ainda assim entendendo que a vida é dos que vivem, dos que vão sem previsão de volta, de quem deixa tudo pra trás porque sabe bem que não adiantam os grandes pesos, já que tudo é daqui pra frente, e eu não fui, por ironia eu fiquei, e não há zombaria maior do que ter deixado um pássaro na gaiola com a porta aberta, ele nunca vai conseguir decidir entre a segurança e a eternidade, são preços muito altos a serem pagos, e nesse jogo, eu ainda tenho hesitado em apostar.


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