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Que nada nos abale



E tudo parecia extremamente onírico, um misto de tranquilidade com alívio, os fins de tarde falavam muito sobre o atual estado, pacíficos, como o sol que já prepara para se pôr, indo em direção ao poente, com a certeza de que já havia brilhado o suficiente e podia finalmente bater em retirada, e assim ceder seu lugar, pleno.


Nada como a paz interna, o sentimento de leveza, necessariamente quando poucas coisas conseguem causar algum tipo de perturbação, as peças parecem encaixar-se por si só, justamente quando cessa a sensação de persegui-las, de incessantemente lutar pelo arranjo perfeito do todo e somente possuir como resultado mais desorganização e caos.


Passa-se a notar os detalhes, quando acaba a perseguição daquilo que sequer esteve sob responsabilidade de alguém, o desejo de encaixar peças que não possuem os mesmos moldes nos furta possibilidades que teríamos caso deixássemos a montagem livre, desimpedida de vícios quaisquer, que somente oneram o caminho, atordoam o desenvolver da trama.


Ao que tudo indica, no fundo é simples estar em paz, a grande questão reside no momento em que tudo alcança tamanho virtuosismo, em saber fazer deste um estado de espírito, que as sinuosas veredas não nos furtem a visão do horizonte, que os buracos no chão não nos impeçam de ainda assim olhar sempre para frente, que as árvores sem folhas não nos tirem a esperança de que tudo voltará a florir. Afinal, possivelmente nunca tudo estará em perfeita consonância, assim como é necessário que aceitemos a condição, mas que ela nunca seja tão preponderante que nos frustre o vindouro, porque ele virá, e é necessário que estejamos de cabeça erguida e em paz conosco para que continuemos extraindo sempre o melhor, percebendo minuciosamente cada detalhe.


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