Um salve aos insistentes
Nunca será fácil pôr fim em algo, a última caminhada é o momento mais atormentador possível, a derradeira troca de olhares, o caminho percorrido com um abismo entre ambos, o abraço final, caso ainda haja força suficiente para um enlace indiferente, mas ainda quente, afinal, não transcorreu tempo suficiente para que o afago esfriasse, para que tudo fosse esquecido.
As razões nunca parecem ser suficientes, por mais certa que seja a afirmação, aparentemente jamais haverá plena certeza dos motivos que ensejaram o desencontro de caminhos, a dissonância dos futuros, e ao finalmente chegarmos lá, de fato não teremos a resposta com exatidão, porque entendemos bem que acabar é sempre abrir mão de um futuro possível, e verdadeiramente é a possibilidade que machuca, a ideia da expectativa, mas que você nunca viverá, senão em pensamento, afinal, este é o alento de tudo que finda, a mera probabilidade, e como em toda aposta, é importante saber a hora de entregar as cartas, nem sempre está favorável e por isso é bom saber a hora de parar.
Insistir, reiteradamente tentar, não sei até que ponto os insistentes são dignos do êxito, dependendo de onde se insista, ele pode ser um vitorioso ou um masoquista, possivelmente seja questão de ponto de vista, ou mesmo de onde investir, nunca se sabe.
Talvez permanecer seja um ato de rebeldia, é quando tudo aponta para o outro lado e as estatísticas não indicam um resultado favorável. Você fica, ao que tudo indica, já conhecedor do fim, mas negando piamente qualquer resolução contrária ao seu imperioso desejo de triunfo. Persistir parece religiosamente mais viável, dada a vontade de conquista, mesmo sem conhecer o quão viável é ficar.
Em um ponto, um salve aos insistentes, não fosse a permanência, pouco haveria sido conquistado, aqueles que insistem em martelar o mesmo prego possuem uma posição crucial no ordenamento terreno, a de arriscar-se e serem vanguarda, desejo de muitos, mas alcançado por poucos.
Ao ponto em que correm o sério risco de agir em demasia, exceder as possibilidades e assim, permanecerem tempo demais em vãs tentativas de lograr êxito, tão carentes de moderação e veracidade, esgotando-se em vão, sem perceber que a hora de parar foi ultrapassada e não há mais o que tentar.
Ao que tudo indica, o caminho seja a sobriedade, óbvio, como tantas coisas que estão diante de nossos olhos e ainda assim não vemos, por falta de sensibilidade ou mesmo por ignorar, e isto também é insistir, afinal também se dá por omissão, e neste ponto perdemos por não escolher a prudência, mas sei lá, triste destes, não são apaixonados o suficiente nem completamente lógicos, não compram uma ideia por completo, nem a dispensam em sua totalidade.
Possivelmente a ideia seja de fato insistir, para o não ou para o sim, ir completo, estar integralmente, ou nada. O mundo nunca foi dos que esperaram, nunca foi sobre aguardar para conquistar, talvez no fim, estejamos todos vivendo à sombra dos insistentes, protegidos pelas suas teimosias, pela sua não aceitação, pelo seu desconforto pujante, portanto, desta vez parece preferível estar ao lado deles, constantes obstinados, além da certeza de estarem tentando, jamais padecerão da indiferença, deste mal eles não cairão.