Luz dos olhos
Teu momento mais encantador é quando estás de olhos fechados, pois é quando posso te apreciar em tua completude, sem ao menos teu olhar, teu julgo, não há com o que se preocupar, é apenas um deleite, um delicioso momento em que aparentemente tudo para, congela-me a sensação de estar diante de ti.
Sim, os olhos fechados, porque é sobre confiar, e não se pode impedir a visão sem o mínimo de crença naquele que olha, afinal, ele está o mais perto possível de ti, e tu, em pura vulnerabilidade, entregue à sensação que é não poder ver, mas ainda assim sentir demasiadamente.
Um momento complexo entre amadores, não se sabe se olha ou desvia, se os olhos ficam abertos ou fechados, se você se sente bem por poder contemplar ou preocupado com tamanha responsabilidade, não é simples ter em sua frente alguém que aceitou fechar os olhos e te permitiu estar no exato instante.
É um segundo muito delicado, por todas as razões, tudo precisa sair com exata sincronia, não é um simples fechar de olhos, ou mesmo pode ser feito de qualquer maneira, exige espontaneidade, sinceridade no ato, a beleza reside na profundidade do olhar, no enigma que é não ver enquanto você está sendo admirado, a dúvida na sensação alheia.
Por isso que é teu momento mais belo, porque não há como dizer que não, um instante sublime de convicção no outro, de extremo sentido, pura transparência. Continue fechando os olhos, entregando-se ao abalo que é o indefinido, nada mais encantador que apreciar a imensidão que é tu de visão selada, há tanto para imaginar, um mundo a percorrer, que não quero nem pensar na devastação que é tu podendo ver tudo, um choque de mundos, uma fusão de realidades, uma insana lucidez.