A ordem dos petulantes
Nunca me encheu os olhos quem parecia conhecer todo seu potencial, tinha completa ideia de onde poderia chegar e assim, fazia disso um caminho inabalável. Pareciam-me muito mais verdadeiros aqueles que nunca sequer tinham entendido toda sua capacidade, e não me entendam mal, não estou a querer podar ninguém, ou mesmo impedir que as essas pessoas prosperem, é só que elas sempre me pareceram mais dispostas às dúvidas. O fato é que toda essa petulância sempre me incomodou, possivelmente justo por viver entre indecisões, transitando entre tantos mundos, criando tantas realidades, que em poucos momentos sustentei certezas dignas de serem estampadas. O futuro sempre pareceu ser das possibilidades, daqueles que ainda não tinham entendido sua disposição no tabuleiro, mas que mesmo assim levantavam todos os dias para tentar e descobrir. Caminhos, os tão cheios de si nunca me pareceram aceitá-los tão facilmente, as tantas voltas que o carrossel dá, as infinitas possibilidades, por isso estes em pouquíssimos momentos me pareceram tragáveis, por estarem tão preocupados com o fim que esquecem da caminhada, das vielas, dos desvios, onde a vida está, esta nunca esteve nas avenidas, salvo em poucos momentos de multidões, nos dias corriqueiros a vida respira nas ruelas, nos entroncamentos, nos becos, mas nem todos ousam cortar caminho.
Sim, por isso não me apetecem, porque negam as pequenas paradas, evitam olhar para o lado, em busca do fim, por se acharem tão merecedores já da chegada. Enquanto os que percorrem os vieses se apressam em passos lentos, se recusam, fazem hora, vão na valsa, tentando descobrir em cada singular ponto seu talento, colhendo um pouco em cada sã experiência. Assim, os andarilhos demoram um tanto a mais para chegar, em outros momentos nem chegam, porque o importante nunca foi a chegada, a certeza de ter para onde ir, foi justamente a dúvida, o trajeto, e justamente por esta razão estes sim possuem toda minha admiração, por se permitirem não olhar somente pro horizonte e irem inabalavelmente, mas imperturbáveis seguirem estacionando onde seja aprazível, como na mais abundante história, sem espelhos, como se o mundo não fosse doente.