Se eu minto para mim, imagina pra você, meu bem
Sim, é impossível cobrar a verdade a todo momento, principalmente verdades tão profundas que nem eu mesmo saberia informar, nem mesmo pra mim, por isso minto para quem jamais deveria, e essa pessoa nunca foi você, sempre foi a mais complexa projeção de mim mesmo, para eu mesmo. Algumas certezas nem eu me dou, porque são exatas demais para que eu continue com elas por tanto tempo, por isso as distorço para você, minto, de verdade, escondo demais situações tão suspeitas que por vezes não sei quem você conhece, pois eu mesmo tenho medo de me conhecer, o mais tortuoso dos encontros, aquele que parece ser o mais fatigante, apesar de ainda assim continuar em uma estrada tão íngreme rumo a esta finalidade, que não sei como será o destino. Se eu minto para mim, que sou quem mais conheço, imagina pra você, meu bem, que tem visto só o que eu te mostro, ouvido só o que eu te conto. Um pecado mortal, o auto-desconhecimento, logo eu, que já me sabotei inúmeras vezes, sem saber onde isso iria me levar, se aqui dentro, um misto de sensações entre o pensar, o sentir, o fazer, e dessa forma um turbilhão de maneiras de ir, e o pior, não ir, quem dirá o que permito que os outros vejam, só um eu que precisa decidir o mínimo possível, porque escolher de vez seria limitar todas as minhas mentiras, tudo o que eu posso criar e imediatamente desfazer. Assim, fico nessa de interpretar passagens, definindo alguns espaços, para ver se consigo me afastar um pouco da mentira, ou justamente escrever sobre ela, de forma a continuar me enganando, negando alguns caminhos internos, alguns passados não passados, o consequente presente e um futuro que não sei, nem tu, porque se eu minto para mim, imagina pra você, meu bem.