Enquanto eu passar na sua rua
Era julho de 2017, hoje revisito os pensamentos com um gosto de saudade, como quem foi abatido com um só tiro e agradece pelo acontecido.
Ver-te lá em cima foi uma das coisas mais lindas que eu poderia ter presenciado, sem entender eu busquei mais, era a sensação mais genuína possível, quase infantil. Eu de fato nem sei como escrever agora, depois que tudo passou, ainda hoje me pergunto o que aconteceu naquele momento, que tanto tempo depois ainda visito teus escritos, ainda me arrepio cada singular vez que te encontro despida, como em uma metáfora planejada.
Queria que tu soubesse o impacto que me causou naquele segundo em que atuou, que ainda hoje lembro dos teus olhos de ressaca, hipnóticos, marejados, eram tantas sensações que me perdi, não tinha como isso não ocorrer.
Mas como foi uma estrada de mão única, só eu me recordo, apenas um de nós carrega estas lembranças, até mesmo o desolamento em um domingo à noite na janela ao saber que pelo menos naquele momento seria impossível qualquer pretensão virar realidade, um golpe doloroso para quem já estava à beira de pular e teve sua possibilidade de voo interrompida.
Se me perguntassem o que no início é doce e no fim azedo, eu diria o amor, principalmente o não degustado, aquele que ficou na prateleira, saiu da validade sem cumprir sua função, eis o maior desconsolo, apodreceu sem eu ter provado, e por incrível que pareça o sabor permanece aqui, eu até poderia dizer com gosto acre, mas estaria mentindo, continua doce. Por isso que enquanto eu passo na sua rua, aflito eu me sinto.