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Por isso o não permanecer



Porque seria me tirar todas as possibilidades, todas as vezes em que eu poderia ir e voltar deliberadamente, não necessariamente para você, porque isso não é do meu feitio, mas percorrer os caminhos sem preocupação, não dar a mínima satisfação, pois assim eu me sentiria podado, cercado de limitações que não são as minhas, de nós que eu não amarrei, e que por isso não conseguiria soltar. Justo porque o mundo é tão vasto, e eu sei que jamais conseguiria experimentar todos os sabores, todas as texturas, mas sinto fielmente que deveria, que em momento algum eu poderia me dar o desprazer de trancar a porta, nem que fosse por algum momento, perfeitamente indeterminado, pois nunca se sabe durante quanto tempo você vai abdicar dos outros gostos, eu não saberia até que ponto a degustação que ficaria seria inédita, quando para mim ela não agradaria mais. Ao passo que possivelmente eu também não saberia ser novo de forma recorrente, para ser o raro gosto de outrem, isso exige astúcia, reinvenção periódica e eu tenho andado relaxado demais para isso, contemplando meu torpor. Por isso o não permanecer, por ser oneroso demais, um delírio incessante. Para alguns o medo maior seria andar o caminho errado, não se perder em um caminho novo, para outros, a simples alegria de ser, continuar trivial, ao passo que a vida pede imediatez. Enquanto isso, é mexer a ponta da asa, deixar o portão aberto, ninguém entra em casa fechada, assim como ninguém olha, que deixemos o vento entrar, ele traz poeira, mas vem o frescor, a distinção está em ter coragem de tirar a sujeira para continuar se refrescando, aos que não estão dispostos, não haverá desfrute.


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